Corri uma maratona com apenas 6 meses de treino

Corri uma maratona com apenas 6 meses de treino

É verdade corri uma maratona com apenas 6 meses de treino… se aconselho a fazerem-no sem nunca terem corrido antes? Não! Se o voltava a fazer? Sim!

Isto tudo começou há 6 meses, andava a fazer alguns desafios em várias modalidades desportivas, e a sensação de concretização pessoal era inexplicável! No entanto, eram desafios de pequena duração, duas semanas a um mês de preparação. 

Decidi que queria aumentar a fasquia e deparei-me com o desafio da maratona. Confesso que nem eu própria sabia da dimensão do desafio a que me estava a propor, toda gente ao meu redor aconselhava-me a começar por uma meia maratona, mas eu queria provar a mim mesma e a todos que tudo é possível com muita força de vontade e dedicação!

Comecei por procurar um treinador que tivesse interesse neste desafio e que me desse um acompanhamento semanal. Muitos rejeitaram a ideia, no entanto, encontrei a equipa de atletismo "Run Tejo", liguei para eles e disseram-me que gostavam muito da ideia, no entanto, teria que fazer um treino teste com a equipa para perceberem se estava apta fisicamente para encarar o desafio da maratona. 

Fiquei contente, mas nervosa… Nunca tinha corrido mais do que 1km sem me cansar extremamente. Cheguei ao primeiro treino e conheci toda gente da equipa e o treinador Carlos Freitas, era ele que me iria acompanhar no processo da maratona se este primeiro treino tivesse os resultados pretendidos.

Comecei por um treino de "Fartlek" (não fazia ideia do que estavam a falar), só sabia que tinha de correr durante 20 minutos para aquecer, e o tempo restante teria que alternar o ritmo conforme era dado um apito (pensei mesmo que nem o aquecimento iria aguentar)! Começamos o treino e tive um colega que me acompanhou nos primeiros 20 minutos para me dar algumas dicas. Para minha surpresa, aguentei o aquecimento todo e não me sentia cansada! Conforme foi dado o primeiro apito, o meu colega seguiu o seu caminho, e fiz o treino de forma autónoma, corria mais rápido e corria mais lento, era a única coisa que eu sabia que era suposto fazer ao longo do treino. Cada colega que passava por mim desejava-me força para continuar e passados 54 minutos de treino acabei por correr 8km sem nunca parar ou andar! Senti uma superação gigante e foi a primeira vez que senti que este desafio podia ser mesmo possível!

O Carlos passou-me um plano de treinos para os três primeiros meses por forma a ambientar-me à corrida. Comecei logo a correr 5 a 6 vezes por semana, foi bastante exigente ao início habituar-me à rotina, no entanto, com o passar das semanas as dores musculares começaram a acalmar e a rotina começou a tornar-se cada vez mais natural.

Chegou janeiro e os treinos mais focados na maratona começaram! Recordo-me como se fosse hoje do meu primeiro treino! Aquecimento 20 minutos e 10 vezes 400 metros. Chovia torrencialmente e a pista estava cheia de poças! Estava muito nervosa com receio de não conseguir aguentar todas as séries! Tinha a Cláudia Borralho a liderar o treino e a colocar o ritmo das séries. A cada série que passava mais chovia e mais vento se sentia, mas a Cláudia manteve-se ao meu lado o treino inteiro e consegui completar o desafio, com um grande sorriso na cara! Senti-me bastante privilegiada por ter a Cláudia ao meu lado, não só é uma atleta com muita experiência como veio a ser a minha "lebre" para a maratona, nunca deixou o meu lado ao longo de todo processo!

Ao longo da minha jornada tive imensos altos e baixos e dias com mais e menos vontade de realizar os treinos. No entanto, estava a correr tudo bem até chegar o dia de fazer um treino longo de 24km. Comecei o treino e tinha imensa dor no joelho, ainda assim, ignorei a pensar que poderia ter dado um mau jeito apenas. No fim, após acabar os 24km mal conseguia andar ou esticar a perna. Pensei para mim “agora, sim, isto não é norma”. Após falar com o Carlos decidimos fazer uma semana de pausa dos treinos e ver se melhorava. Infelizmente as dores continuavam e após uma visita ao médico foi-me dito que tinha uma contusão óssea no joelho e aconselharam-me a não fazer a maratona. Em alternativa, se continuasse a querer fazê-lo, teria que parar pelo menos um mês e correr mais devagar na prova. Confesso que me caiu tudo… Estávamos a dois meses da prova e não estava pronta para desistir!

Concentrei-me em melhorar e passado um mês regressei aos treinos sem dores! Foi posto em cima da mesa adiar a maratona para o próximo ano, mas eu queria tanto provar que era possível mesmo que tivesse de correr mais devagar. E assim foi! A faltar um mês para o grande dia sentia-me a correr atrás de um comboio para ganhar toda a resistência que tinha perdido! Treinei 6 vezes por semana até o dia da prova!

Uma semana antes os nervos invadiram a minha cabeça, se antes tinha a certeza que ia chegar à meta, por momentos, deixei de acreditar tanto que ia ser uma possibilidade, afinal com a pausa regredi imenso nos treinos. Tive ataques de pânico e chorei muito… mas sem nunca desistir.

O dia finalmente chegou! E estava surpreendentemente entusiasmada, sonhei e treinei durante 6 meses para aquele dia, e já só queria correr porque me sentia realmente merecedora de me tornar uma maratonista!

Despedi-me da minha família e do treinador, juntei-me à Cláudia, a minha "lebre", e colocámo-nos na partida... O relógio disparou e lá fomos nós! Sentia uma adrenalina e entusiasmo gigante, éramos 15 mil pessoas e todos pelo mesmo! Corri a maioria dos quilómetros sempre com um sorriso na cara! Estava tão feliz, por finalmente estar a realizar um sonho que de início estava tão longe de se tornar realidade! Passei pela minha família e amigos que gritaram por mim, fiz amigos que correram mais de 10km ao meu lado e tive sempre a minha Cláudia Borralho comigo a apoiar-me! 

Passei os 21km e a lágrimas corriam de felicidade… estava mesmo a acontecer! Eu ia mesmo tornar-me uma maratonista. No entanto, chegamos ao km 33 e as coisas começaram a complicar-se: as pernas já pesavam e a respiração estava descontrolada. Sentia que já não tinha forças e acabámos por abrandar o ritmo. A esta altura, já haviam imensas pessoas a parar e a caminhar, mas a Cláudia, a minha "lebre", não me deixava olhar, dizia-me sempre para me focar em mim, na minha prova e continuar. 

A esta altura faltavam 2km, estava arrepiada e tinha os lábios roxos, dei por mim completamente desidratada sem saber… eu já não falava, não tinha força para responder ao que me perguntavam, só corria! Faltavam 600 metros e mais colegas de equipa juntaram-se a mim: gritavam, festejavam, sorriam e diziam “Claudia estás a conseguir, é teu, já estás a chegar!” e do nada veio uma força em mim e começámos a "sprintar" até passar finalmente a meta! 

 

CONSEGUI! Fui ao alcance do meu sonho e tornei-me maratonista!

 

 

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